GNR & LUTÉCIA
...um dia fui assistir ao concerto dos Gang of Four numa praça de touros em Espinho; poucos dias antes, tinha saído uma notícia no jornal Tal & Qual, sobre os GNR, e era uma só frase do Luís Vitta: "Vejam lá que no Porto existe um grupo que se chama GNR, e esta hein?"; só por causa dessa frase, emprestaram-nos um P.A. que pertencia ao Ze Fernandes, que tocou acordeão no disco dos Trabalhadores do Comércio, mas era manager; ele nada entendia de tecnologia, mas conhecia dois técnicos de som que trabalhavam para ele, e ele repetia esta frase - que não entendia - vezes sem conta: "O vasco, é o Vasco ; e o Joca é Joca; e ambos dizem: com equalização paramétrica é outra loiça"; ouviamos isto sempre a rir-nos e voltávamos a perguntar-lhe: "Ó Zé Fernando: que mesa nos recomendas?"; e ele lá dizia a reza: "O vasco, é o Vasco ; e o Joca é Joca; e ambos dizem: com equalização paramétrica é outra loiça"; era hilariante; mas, estava eu no concerto, e à minha frente estava um gajo que ora gritava e se mexia excitadamente, ou, ficava parado, sem se mexer, a babar-se; o amigo explicou: "O men está em drunfos e speeds ao mesmo tempo"; no intervalo vou ao bar, e levava vestido uma t-shirt feita por mim, branca, a dizer "GNR" pintado a spray vermelho; nisto vem um gajo de fato ter comigo e pergunta-me: "És dos GNR?"; e eu, surpreendido por alguém conhecer o meu grupo, respondo-lhe que sim; ele diz-me: "Olá, eu sou o Francisco Vasconcelos e quero que vocês vão gravar um disco para a Valentim de Carvalho"; eu fico a olhar para o gajo, sem acreditar, e repondo que sim; dias depois estávamos a ir para Lisboa, de comboio, em primeira classe, e iamos ficar no Hotel Lutécia; era um hotel cinco estrelas na altura; mal lá chegamos, começamos a encomendar coisas: gelados, batidos, sandes, omoletes, etc.; havia 24 horas room service; o tóli, tinha uma namorada, e telefonava-lhe e ficava horas com o telefone ligado; isto numa altura em que ligar para o Porto era ao minuto que se pagava e era caro; e este pagode durou uns quatro dias; no fim de gravado o disco, iamos regressar ao Porto, e o Xico Vasconcelos, foi lá para nos levar à estação, mas também para pagar os quartos; estava ele no balcão para pagar, e nós cheios de medo, tipo putos (que eramos), com medo que ele descobrisse o que fizemos; ele pergunta quanto é da estadia, e o gerente diz-lhe "Quarenta contos"; ele paga e está-se a ir embora, quando o gerente diz: "Há também as despezas dos quartos"; e o Xico, olha para ele e pergunta-lhe quanto é; e o gerente responde: "São 56 contos"; o Xico nem queria acreditar no que ouvia; olhou para nós, nós desviamos o olhar, e ele, sorriu, pagou e veio ter connosco e nada nos disse, mas ia a sorrir...
Sem comentários:
Enviar um comentário