SOM IDENTIDADE OU O SOM ESTILO
O que pretendemos afirmar quando dizemos que "o som do Miles Davies éinconfundível"? O que é "o som Coltrane"? E "o som Hendrix"? O que leva as pessoas a dizerem que "o som dos Beatles é diferente do som dos Rolling Stones"? E o que é "o som Karajan"? Em que difere o som de Ravi Shankar de um outro tocador de sitar? Afinal que tipo de som é este e de que forma o podemos classificar?
Comecemos por investigar a importância da instrumentação: de que forma éimportante a escolha do instrumento ou instrumentos para obtermos este som identidade? O som do trompetista Jon Hassell é constituído por ele tocar com 50% de som do instrumento e 50% som de ar; depois usa um processador de som (Eventide) que é um harmonizador (cria várias notas a partir de uma só e estas – as notas – estão em relação harmónica umas com as outras; e, finalmente, temos a parte melódica: as escalas ou modos que ele escolhe para o seu fraseado musical.
Mas será que um outro músico, com o mesmo instrumento, com o mesmo processador e usando as mesmas escalas e modos de Hassell, soa como este? Éprovável que sim. Mas especialistas irão identificar que não é ele. Da mesma forma que existem centenas ou mesmo milhares de pianistas a tentarem imitar Keith Jarrett e, mesmo assim, conseguimos detectar o original das cópias. Écomo um imitador de vozes de famosos: é uma voz semelhante (tonalidade, expressão, tímbre) mas não é igual.
Podemos assim concluir, que o facto de dois músicos usarem instrumentos iguais, ou de se usarem as mesmas escalas ou modos, não faz com que soem igual, que tenham o mesmo som. No caso de um Maestro, o caso é ainda mais complexo: o Maestro não toca nenhum instrumento, os músicos são sempre diferentes e as músicas interpretadas podem estar separadas temporalmente por séculos. No entanto, mesmo assim, conseguimos distinguir se uma orquestra está a ser dirigida por este ou aquele Maestro.
Então se o som identidade não é caracterizado pelo som do instrumento; se não tem a ver com o ou os músicos envolvidos (no caso de um Maestro e de uma orquestra); e se não tem a ver sequer com a escolha das músicas ou das notas, escalas, ritmos, nelas contidas, o que é que nos faz identificar um som de um músico de outro, tal como uma mãe pinguim consegue descortinar o som da sua cria no meio de milhares de outras crias?
Talvez a resposta a esta questão – que não é simples – seja a de que o som identidade é uma mescla de todos estas variantes: instrumentação, técnicas instrumentais, musicalidade, tímbre, ritmo, e toda uma série de idiossincrasias sónicas do individuo ou individuos produtores do som musical.
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