terça-feira, 11 de setembro de 2012

TO ROCK, OR NO TO ROCK EM PORTUGUÊS ? EIS A QUESTÃO...

TO ROCK, OR NOT TO ROCK EM PORTUGUÊS ?
EIS A QUESTÃO...



1. A Pop Art

A arte Pop surge nos anos 1960 em Nova Iorque e em Inglaterra e rápidamente se alastra a todo o mundo. A Pop Art era um movimento que se vangloriava de uma multiplicidade de origens: os artistas Pop sentiam a necessidade de assimilar a arte de diversas culturas. Na música isso reflectia-se na abordagem de músicas não-europeias
( especialmente as músicas indiana e africana ), ou na colagem de diferentes estilos de diversas tipologias musicais ( citações da música clássica ocidental, da música concreta e eletrónica e do jazz ).
Exemplo dessa assimiliação é o disco " Sgt. Peppers..." dos Beatles, onde vemos a utilização de instrumentos não-europeus como o sitar, e algumas citações da música indiana; a inclusão de elementos concretistas ( vozes, risos, sons de animais, caixas de música ); manipulação da electrónica ( ecos, reverberações, distorções, uso da banda magnética ); a utilização da orquestra implicou a inclusão de instrumentos como a harpa, o cravo ou os strings e, quase automaticamente, isso reflectia-se nas citações da música clássica-ocidental. A própria capa do disco era um objecto de arte com referências a diversos artistas, transformados em icones Pop.

2. Pop Rock em Portugal

Não querendo fazer uma lista cronológica e exaustiva de nomes de músicos ou grupos Pop/Rock portugueses, muitos deles, já desaparecidos da cena musical, ou então intrometidos nas lides do comercialismo e da música ligeira, vou assim, limitar-me à citação de exemplos tipo flash, por ordem muitas vezes não cronológica, de diversos músicos ou grupos que de alguma maneira contribuíram ou contribuem para a evolução e dignificação do Pop/Rock em Portugal.
Se passo à frente os anos sessenta não é porque desconheça o que se fazia cá__o que até é verdade__mas mais porque foi uma época práticamente irrelevante para a história
da Pop/Rock feita em Portugal.
Nos anos setenta, embora o número de músicos e grupos viesse a aumentar, a qualidade musical mantinha-se má. Em 73 e 74 ( em pleno período do chamado Rock Sinfónico ), dois grupos aparecem a dominar a cena portuguesa: os pré-históricos Arte&Oficios e os dinossauricos Tantra, que surgem, imitando ( às vezes bem ) o estilo musical de super-bandas como os Genesis, Yes, Gentle Giant, Pink Floyd. Era o período dos espectáculos visuais ( luzes, projecções, fumos ), rodeadas quase sempre de um Kitch e provincianismo arrepiantes. Um grupo de certa maneira marginal a isto tudo, com poucos concertos e

( creio ), nenhum registo fonográfico foram os Tempo, constituído por músicos de excelente técnica e com bom gosto, que produziam boa música instrumental.
A chegada do Punk e da New Wave vai dar origem ao que viria a ser chamado de " Boom do Rock português ", uma espécie de Big-Bang Rock no Portugal dos Pequeninos...
Do período Punk, referência a um só grupo: Corpo Diplomático. Depois vem o " Boom " e com ele uma lista interminável de nomes, entre os quais se podem destacar os " abjectos " Grupo de Baile, os " neo-imbecis " dos Rockivários, os " pirosos " dos
Táxi, os " proletários " dos UHF, passando pelos então " marginais " Xutos e Pontapés, os " nacionalistas " Heróis do Mar e os " irreverentes " GNR.
Embora pobre, este foi o melhor momento e o mais significativo de toda a história do rock produzido em Portugal. Assim podemos referir o primeiro LP dos Heróis do Mar, em que davam a oportunidade ao público de consumirem uma espécie de rock nacionalista, quer através da utilização de determinados instrumentos ( acordeão, guitarra portuguesa, gaita de foles ), quer através de letras de inspiração nacionalista.
Com o LP " Independança " dos GNR, atinge-se um dos pontos mais altos desta tipologia musical feita em Portugal. Por um lado novas concepções de produção, viriam substituir as quase primitivas técnicas ( tão em uso ), tipo: " primeiro grava-se a secção ritmica, depois as guitarras , depois as vozes...". Por outro lado eram feitas experimentações ousadas no dominio da manipulação dos sons, não hesitando em usar
as mais diversas formas de alteração/transformação do som através de diferentes técnicas/tecnologias : tape reverse, variações de velocidade, harmonizers. Estes efeitos eram usados frequentemente e como parte integrante do som e não como mero enfeite decorativo.
Mas a grande revolução deste disco, residiu na liberdade que ele representava, em especial o tema " Avarias " de 27 minutos, que ocuparia todo o lado B com uma improvisação de Free Rock, marcando e influenciando muitos projectos futuros.
Em meados dos anos 1980, assiste-se a uma involução no Rock/Pop produzido em Portugal. Os grupos optam pelo comercialismo, dão as mãos à música ligeira, tornando-se" comerciantes da música ". Mais tarde, esta onda de mediocridade viria a ser cortada pelo grupo Pop dell Arte, o qual viria de novo a definir certas regras da Pop: inconformismo, revolta, experimentação, liberdade. Valores que vinham a perder-se cada vez mais e que com o LP " Free Pop " em 1987, foram de novo instalados na Pop em Portugal. Hoje músicos como Bernardo Devlin, ou grupos como os rockers "Loosers" ou o projecto pop "Micro Audio Waves", são excepção à mediocridade vigente.

3. A inexistência de um Rock português

Quando se fala de Rock Alemão, não se está sómente a referir o facto de esse rock ser
geográficamente realizado nesse país. Com efeito está implicita a constatação de que no rock alemão existe uma linguagem e uma tecnologia que o distingue de, por exemplo, um rock inglês ou americano. Nesse sentido, não existe rock português, como também não existe rock marroquino ou rock italiano, uma vez que nunca nestes países, se conseguiu criar uma gramática musical, adoptada por vários grupos ou músicos, que fosse própria dessas sociedades.

4. O futuro da Pop / Rock em Portugal

Hoje, trinta e um anos depois do " Boom ", tudo continua quase na mesma no mundo inferior da Pop: falta de cultura musical ( e não só ) entre a maior parte dos músicos: 99% da música apresentada na televisão é em playback; ausência de salas para a divulgação destas músicas; organizações deficientes de concertos; grupos como os Táxi, sáo substituídos pelos " festivaleiros-Pimba " dos Delfins ou grupos de pseudo-Rock/Pop; qualquer pessoa que cante mal o fado, acompanhado por uns sinistros sintetizadores; grupos tipo " noise-da-silva "; músicas Hip-Hop-House-rap-tecno-industriais-new-age; grupos pós-punk-Manschester-holligans-tipo-vivó-Benfica-e-vira-o-milho; ou mesmo alguém que trabalhe em computador; um xincha qualquer a cantar enquanto espreme um acordeão; cantores-tipo-festival-da-canção-de-agora-que-dantes-eram-bem-melhores; grupos de música foleira com nomes tipo " Passarinhos à solta " ou " Pouca-terra "; gajas de mini-saia com pernas cheias de celulite tipo Macona; ou tudo o mais que lhes passar por aquelas cabecinhas mentalidade de passarinho. Tudo isto sob a sigla imbecilizante de " Música Moderna Portuguesa - MMP ". Perante tal panorama, talvez seja musicológicamente mais correcto, pegar num apagador, fazer desaparecer o termo Música Moderna Portuguesa e substituí-lo por Música de Merda Portuguesa. Ao menos " merda " está bem definida desde hà muito tempo e todos sabemos bem o que é.
É claro que existe um número ( embora reduzido ) de músicos cada vez mais esclarecidos, e que tentam, cada um à sua maneira, alterar o panorama da Pop e do rock em Portugal. Neles depositamos a nossa esperança, de alguma vez podermos voltar a poder falar de Rock e Pop em Portugal.
Amén!

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