TO ROCK, OR NOT TO ROCK EM PORTUGUÊS ?
EIS A QUESTÃO...
1. A Pop Art
A
arte Pop surge nos anos 1960 em Nova Iorque e em Inglaterra e
rápidamente se alastra a todo o mundo. A Pop Art era um movimento que se
vangloriava de uma multiplicidade de origens: os artistas Pop sentiam a
necessidade de assimilar a arte de diversas culturas. Na música isso
reflectia-se na abordagem de músicas não-europeias
( especialmente
as músicas indiana e africana ), ou na colagem de diferentes estilos de
diversas tipologias musicais ( citações da música clássica ocidental, da
música concreta e eletrónica e do jazz ).
Exemplo dessa assimiliação
é o disco " Sgt. Peppers..." dos Beatles, onde vemos a utilização de
instrumentos não-europeus como o sitar, e algumas citações da música
indiana; a inclusão de elementos concretistas ( vozes, risos, sons de
animais, caixas de música ); manipulação da electrónica ( ecos,
reverberações, distorções, uso da banda magnética ); a utilização da
orquestra implicou a inclusão de instrumentos como a harpa, o cravo ou
os strings e, quase automaticamente, isso reflectia-se nas citações da
música clássica-ocidental. A própria capa do disco era um objecto de
arte com referências a diversos artistas, transformados em icones Pop.
2. Pop Rock em Portugal
Não
querendo fazer uma lista cronológica e exaustiva de nomes de músicos ou
grupos Pop/Rock portugueses, muitos deles, já desaparecidos da cena
musical, ou então intrometidos nas lides do comercialismo e da música
ligeira, vou assim, limitar-me à citação de exemplos tipo flash, por
ordem muitas vezes não cronológica, de diversos músicos ou grupos que de
alguma maneira contribuíram ou contribuem para a evolução e
dignificação do Pop/Rock em Portugal.
Se passo à frente os anos
sessenta não é porque desconheça o que se fazia cá__o que até é
verdade__mas mais porque foi uma época práticamente irrelevante para a
história
da Pop/Rock feita em Portugal.
Nos anos setenta, embora o
número de músicos e grupos viesse a aumentar, a qualidade musical
mantinha-se má. Em 73 e 74 ( em pleno período do chamado Rock Sinfónico
), dois grupos aparecem a dominar a cena portuguesa: os pré-históricos
Arte&Oficios e os dinossauricos Tantra, que surgem, imitando ( às
vezes bem ) o estilo musical de super-bandas como os Genesis, Yes,
Gentle Giant, Pink Floyd. Era o período dos espectáculos visuais (
luzes, projecções, fumos ), rodeadas quase sempre de um Kitch e
provincianismo arrepiantes. Um grupo de certa maneira marginal a isto
tudo, com poucos concertos e
( creio ), nenhum registo
fonográfico foram os Tempo, constituído por músicos de excelente técnica
e com bom gosto, que produziam boa música instrumental.
A chegada do
Punk e da New Wave vai dar origem ao que viria a ser chamado de " Boom
do Rock português ", uma espécie de Big-Bang Rock no Portugal dos
Pequeninos...
Do período Punk, referência a um só grupo: Corpo
Diplomático. Depois vem o " Boom " e com ele uma lista interminável de
nomes, entre os quais se podem destacar os " abjectos " Grupo de Baile,
os " neo-imbecis " dos Rockivários, os " pirosos " dos
Táxi, os "
proletários " dos UHF, passando pelos então " marginais " Xutos e
Pontapés, os " nacionalistas " Heróis do Mar e os " irreverentes " GNR.
Embora
pobre, este foi o melhor momento e o mais significativo de toda a
história do rock produzido em Portugal. Assim podemos referir o primeiro
LP dos Heróis do Mar, em que davam a oportunidade ao público de
consumirem uma espécie de rock nacionalista, quer através da utilização
de determinados instrumentos ( acordeão, guitarra portuguesa, gaita de
foles ), quer através de letras de inspiração nacionalista.
Com o LP "
Independança " dos GNR, atinge-se um dos pontos mais altos desta
tipologia musical feita em Portugal. Por um lado novas concepções de
produção, viriam substituir as quase primitivas técnicas ( tão em uso ),
tipo: " primeiro grava-se a secção ritmica, depois as guitarras ,
depois as vozes...". Por outro lado eram feitas experimentações ousadas
no dominio da manipulação dos sons, não hesitando em usar
as mais
diversas formas de alteração/transformação do som através de diferentes
técnicas/tecnologias : tape reverse, variações de velocidade,
harmonizers. Estes efeitos eram usados frequentemente e como parte
integrante do som e não como mero enfeite decorativo.
Mas a grande
revolução deste disco, residiu na liberdade que ele representava, em
especial o tema " Avarias " de 27 minutos, que ocuparia todo o lado B
com uma improvisação de Free Rock, marcando e influenciando muitos
projectos futuros.
Em meados dos anos 1980, assiste-se a uma
involução no Rock/Pop produzido em Portugal. Os grupos optam pelo
comercialismo, dão as mãos à música ligeira, tornando-se" comerciantes
da música ". Mais tarde, esta onda de mediocridade viria a ser cortada
pelo grupo Pop dell Arte, o qual viria de novo a definir certas regras
da Pop: inconformismo, revolta, experimentação, liberdade. Valores que
vinham a perder-se cada vez mais e que com o LP " Free Pop " em 1987,
foram de novo instalados na Pop em Portugal. Hoje músicos como Bernardo Devlin, ou grupos como os rockers
"Loosers" ou o projecto pop "Micro Audio Waves", são excepção à
mediocridade vigente.
3. A inexistência de um Rock português
Quando se fala de Rock Alemão, não se está sómente a referir o facto de esse rock ser
geográficamente
realizado nesse país. Com efeito está implicita a constatação de que no
rock alemão existe uma linguagem e uma tecnologia que o distingue de,
por exemplo, um rock inglês ou americano. Nesse sentido, não existe rock
português, como também não existe rock marroquino ou rock italiano, uma
vez que nunca nestes países, se conseguiu criar uma gramática musical,
adoptada por vários grupos ou músicos, que fosse própria dessas
sociedades.
4. O futuro da Pop / Rock em Portugal
Hoje,
trinta e um anos depois do " Boom ", tudo continua quase na mesma no
mundo inferior da Pop: falta de cultura musical ( e não só ) entre a
maior parte dos músicos: 99% da música apresentada na televisão é em
playback; ausência de salas para a divulgação destas músicas;
organizações deficientes de concertos; grupos como os Táxi, sáo
substituídos pelos " festivaleiros-Pimba " dos Delfins ou grupos de
pseudo-Rock/Pop; qualquer pessoa que cante mal o fado, acompanhado por
uns sinistros sintetizadores; grupos tipo " noise-da-silva "; músicas
Hip-Hop-House-rap-tecno-industriais-new-age; grupos
pós-punk-Manschester-holligans-tipo-vivó-Benfica-e-vira-o-milho; ou
mesmo alguém que trabalhe em computador; um xincha qualquer a cantar
enquanto espreme um acordeão;
cantores-tipo-festival-da-canção-de-agora-que-dantes-eram-bem-melhores;
grupos de música foleira com nomes tipo " Passarinhos à solta " ou "
Pouca-terra "; gajas de mini-saia com pernas cheias de celulite tipo
Macona; ou tudo o mais que lhes passar por aquelas cabecinhas
mentalidade de passarinho. Tudo isto sob a sigla imbecilizante de "
Música Moderna Portuguesa - MMP ". Perante tal panorama, talvez seja
musicológicamente mais correcto, pegar num apagador, fazer desaparecer o
termo Música Moderna Portuguesa e substituí-lo por Música de Merda
Portuguesa. Ao menos " merda " está bem definida desde hà muito tempo e
todos sabemos bem o que é.
É claro que existe um número ( embora
reduzido ) de músicos cada vez mais esclarecidos, e que tentam, cada um à
sua maneira, alterar o panorama da Pop e do rock em Portugal. Neles
depositamos a nossa esperança, de alguma vez podermos voltar a poder
falar de Rock e Pop em Portugal.
Amén!
Amen :)
ResponderEliminarAleluia ;=)
EliminarAleluia ;)
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