Entrevista a Vítor Rua #02 - O Ensino da Música e os seus problemas
Tive muita sorte em ter apanhado um professor na Escola Duarte Costa que finalmente motivava a pessoa, como foi o meu caso. O professor José Pina motivou-me a lá estar, foi a pessoa com quem estive mais tempo a aprender. Os poucos anos que estive com ele, foi com gosto. Ele motivou-me a ouvir música, e a ver partituras, enquanto que na maior parte das vezes só ia a uma aula e desistia logo.
Por outro lado, o ensino também está direccionado – ou esteve durante muito tempo – a criar intérpretes, até haver agora estas situações de Composição e Musicologia, como por exemplo na Universidade de Évora e na Universidade de Aveiro. Uma pessoa agora pode ir a um sítio e apanhar um bom professor, como acontece na Escola Superior de Música, na Universidade Nova, ou em Aveiro. Acho que é uma sorte ter-se aulas ou workshops, por exemplo, com o João Pedro Oliveira ou com a Isabel Soveral. Mas, regra geral, o ensino está talhado para sair e ser-se professor – e é óptimo ser-se professor se se for bom. Sei que na Universidade de Aveiro, e em outras escolas, se pode abordar o jazz, a música improvisada e a música electrónica - há universidades que já têm mesmo um estúdio de música electrónica. Até há bem pouco tempo isso não acontecia.
O Stockhausen dizia uma coisa engraçada. Ele era contra este sistema do Conservatório, que separava quase sempre Stravinsky de tudo o que fosse posterior. Perguntaram-lhe então qual era a concepção dele, e ele disse qualquer coisa do género “nos primeiros anos deveriam ouvir muita música, depois numa fase posterior podia ouvir-se essa música, analisando-a e comentando-a. Depois, a coisa mais importante era dançar, as pessoas deviam dançar. Mesmo os jovens que à noite dançam nas discotecas deviam ter aulas de danças de toda a parte do mundo.” – então perguntavam-lhe de novo: “Mas, e então a história da música… a notação?” E ele respondia que para isso já havia muitos livros e CD’s, que quem quisesse podia estudar isso no último ano. Quer dizer, era quase tudo ao contrário. Ele dava menos importância àquilo que no fundo é a história da música. Em todo o caso, são raras as situações em que se fala das novas notações musicais. Os intérpretes que saem dessas escolas, do Conservatório, não estão normalmente preparados para o mínimo dos mínimos dos sinais, dos métodos e das novas técnicas do seu instrumento. Muitas vezes, os compositores têm de se informar em livros estrangeiros, ou através da experiência com os outros músicos. Mas isso do ensino, seria uma outra história…
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