terça-feira, 4 de setembro de 2012

AINDA NÃO CHEGA?...

AINDA NÃO CHEGA?...

...a primeira vez que o António Variações, foi meter voz numa música tocada e produzida por mim, no seu primeiro LP, foi uma experiência inesquecível; em primeiro lugar, gostava de frisar, que para mim, naquela época, o Variações estava na fronteira do piroso e do engraçado; eu ouvia no rock coisas como os King Crimson, Zappa, Talking Heads, Eno, e depois ouvia tudo o resto: Miles, Coltrane, Monk, pigmeus aka, ragas indianos, polifonia africana, etc.; logo, fazer um riff de guitarra, como o que fiz no tema "O corpo é que paga", era o limiar do aceitável para mim; mas, como estava a dizer, ele ia meter voz pela primeira vez num tema; e ele tinha problemas com o tempo, as entradas, e, especialmente, com a afinação; e nesse tema a música saía em fade out; e então eu, o Pedro Vasconcelos e o Toli, dissemos-lhe, para que quando terminasse a música ele continuasse mais umas frases, para depois fazermos fade out; ele começou a cantar, e nós nem queríamos acreditar no que viamos; o Variações cantava, como se estivesse a cantar num estádio para milhares de pessoas; era impressionante; ele mexia os braços, as mão, as ancas, a cabeça, e estava mesmo a curtir como numa trip, mas sem tomar nada; nós os três começamo-nos a rir; sem parar; e o tema a chegar ao final, e para ele não nos ver a rir pelo vidro que separava as duas salas, abaixamo-nos por trás da mesa de mistura; e riamos...; o tema acaba, e ele fica a cantar a capela; e nós a rir desalmadamente, não conseguiamos carregar no botão do microfone, para lhe dizer para terminar de cantar; e ele continuava a cantar, cada vez mais fora do tempo e cada vez mais desafinado; e nós a chorarmos a rir; até que ao fim de mais de três minutos, ouve-se ele a dizer: "Ainda não chega?"; e nós cagamo-nos ainda mais a rir, e eu, alguém tinha de fazer algo, coitado dele, estico o braço de forma a ele não me ver, carrego no botão do micro e digo: "Já chega", e desligo o botão e ficamos ali os três a chorar a rir no chão mais uns minutos, enquanto ele perguntava: "Não ficou bem?", repetidamente...

Sem comentários:

Enviar um comentário