sábado, 8 de setembro de 2012

O ACIDENTE NA IMPROVISAÇÃO

 O ACIDENTE NA IMPROVISAÇÃO

...uma da primeiras vezes que trabalhei com o coreógrafo João Fiadeiro, ainda ele não tinha a ideia da sua "Composição em tempo real", que por acaso, fui eu que lhe disse essa frase que pertencia ao Pierre Boulez, e também fui eu que lhe dei um artigo meu a ler que se chamava "O Erro Na Improvisação", que foi publicado cá e no estrangeiro, e ele, no seu método, alterou para "O Acidente na Improvisação"; mas como dizia eu, estava eu a fazer m´sucia para uma obra dele, quando fuui ao primeiro ensaio; ele pediu-me para eu meter um som qualquer, e assim fiz; no final, ele vira-se para um dos intérpretes e diz-lhe: "Lembtas-te daquele belo momento teu em que subiste para o banco e recistaste um poema?"; e o intérprete feliz dizia que sim, que se lembrava perfeitamente; e então o Fiadeiro dizia: "Entaõ nunca mais fazes isso a partir de hoje"; depois vira-se para o outro intérprete e diz: "Recordas-te daquele momento em que fizeste o pino e ficaste a jogar berlinde com a mão?"; e o intérprete dizia que sim; então o Fiadeiro diz-lhe: "Nunca mais voltes a fazer isso"; e finalmente virou-se para mim e disse-me: "E tu Rua, lembras-te daquele momento belo em que a música parecia acompanhar o movimento dos performers?"; e eu disse-lhe que sim; e ele lá me disse o mesmo que a eles: "Isso está bom demais! Nunca mais uses esse material; ao ver aquilo, imediatamente no meu cérebro se gerou uma ideia: vou fazer a música que quero que seja usada na peça, mas não a vou trazer nunca para os ensaios; só vou trazer aquilo que não quiser usar; e assim foi; durante um mês, levei sempre música que não me interessava usar, e ele lá dizia: "Isto está bem demais, não uses mais", e o mesmo aos performers; até que no dia da estreia, levei finalmente, a música que sempre quis usar e que já estava feita há mais de um mês...

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