O ACIDENTE NA IMPROVISAÇÃO
...uma da primeiras vezes que trabalhei com o
coreógrafo João Fiadeiro, ainda ele não tinha a ideia da sua "Composição
em tempo real", que por acaso, fui eu que lhe disse essa frase que
pertencia ao Pierre Boulez, e também fui eu que lhe dei um artigo meu a
ler que se chamava "O Erro Na Improvisação", que foi publicado cá e no
estrangeiro, e ele, no seu método, alterou para "O Acidente na Improvisação";
mas como dizia eu, estava eu a fazer m´sucia para uma obra dele, quando
fuui ao primeiro ensaio; ele pediu-me para eu meter um som qualquer, e
assim fiz; no final, ele vira-se para um dos intérpretes e diz-lhe:
"Lembtas-te daquele belo momento teu em que subiste para o banco e
recistaste um poema?"; e o intérprete feliz dizia que sim, que se
lembrava perfeitamente; e então o Fiadeiro dizia: "Entaõ nunca mais
fazes isso a partir de hoje"; depois vira-se para o outro intérprete e
diz: "Recordas-te daquele momento em que fizeste o pino e ficaste a
jogar berlinde com a mão?"; e o intérprete dizia que sim; então o
Fiadeiro diz-lhe: "Nunca mais voltes a fazer isso"; e finalmente
virou-se para mim e disse-me: "E tu Rua, lembras-te daquele momento belo
em que a música parecia acompanhar o movimento dos performers?"; e eu
disse-lhe que sim; e ele lá me disse o mesmo que a eles: "Isso está bom
demais! Nunca mais uses esse material; ao ver aquilo, imediatamente no
meu cérebro se gerou uma ideia: vou fazer a música que quero que seja
usada na peça, mas não a vou trazer nunca para os ensaios; só vou trazer
aquilo que não quiser usar; e assim foi; durante um mês, levei sempre
música que não me interessava usar, e ele lá dizia: "Isto está bem
demais, não uses mais", e o mesmo aos performers; até que no dia da
estreia, levei finalmente, a música que sempre quis usar e que já estava
feita há mais de um mês...
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