CÂIMBRA MUSICAL
...um dia o Nuno Rebelo convidou-me para eu dar um concerto com ele e o Rafael Toral, no Jardim Botânico da Escola Politécnica; como eu lhe devia muitos favores, e o Jardim era no cimo da minha rua, resolvi aceitar; pelas 15 horas aparecei para o check sound e só levava comigo um microfone e um delay; eles, já estavam lá há mais tempo a prepararem-se; eu montei o microfone, liguei o delay, e em 30 segundos estava feito o check sound; mal disse que me ia embora, o Rafael diz-me que seria melhor eu experimentar mais o som; eu digo-lhe que não, que já está bem; o Nuno também me fala na existência de uma partitura que teriamos de ensaiar; eu digo-lhes algo de género: "Vejam então vocês isso, e depois eu venho logo à noite mais cedo; e fui-me embora, sendo que o Rafael me disse, que me ia "melhorar" o som; à noite, uns três minutos antes do concerto começar, lá fui eu pelo jardim fora, e ia apanhando flores, pedras, ramos de árvores; tudo o que ia vendo pelo chão do jardim que me pudesse servir como instrumento musical; cheguei ao palco e eles os dois já estavam em transe por eu chegar tarde; o Nuno dá-me uma partitura para as mãos, ainda a tentar explicar-me a cena, enquanto o Rafael me dizia que tinha estado a fazer o meu som; o concerto começa e eu ligo o delay; começa um feedback estridente; desligo o delay imediatamente; ou seja, eu estive 30 segundos a fazer o som, e ficou tudo bem; ele - o Rafael - teve horas, e fodeu-me o som; toquei sem delay; a primeira coisa que fiz, foi chegar-me ao microfone com a folha da partitura, e começar a rasgar a mesma junto do microfone; o Nuno vê aquilo e sorri e começa a rasgar também a dele; creio que o Rafael não rasgou a dele; pouco tempo depois, eu estava embrenhado em produzir sons com folhas, pedrinhas, e paus; ia partindo ramos nos joelhos, dobrando os ramos; até que pego num mais grosso e forte e tento parti-lo; e não consigo; e penso "Que vergonha... Tenho de partir isto"; e faço uma força incrível e de repente dá-me uma câimbra; daquelas que vemos os jogadores de futebol no chão a rebolarem-se de dor; e começo a bater muito de força com o pé no chão do palco que era de madeira; era uma forma que eu conhecia de quando jogava futebol, para voltar a meter o músculo no sitio; o Nuno olha para mim, e pensa que estou a fazer de propósito porque o som do pé a bater na madeira fazia eco e era espectacular; e começa também ele a bater com o pé no chão, logo seguido do Rafael; e assim ficamos, até me passar a câimbra...
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