quinta-feira, 18 de outubro de 2012

PERSPECTIVA NA MÚSICA

 PERSPECTIVA NA MÚSICA


 
...da mesma forma que falamos em perspectiva em pintura, podemos fazê-lo em relação ao som. Os sonoplastas e compositores americanos de música para filmes, consideravam existir três estratos sonoros: foreground, middleground e background. Foreground era o fulcro sonoro central de uma cena, middleground era o contexto sonoro próximo da figura principal e background o campo sonoro onde se realizava o todo desse plano.
Murray Schafer alterou os termos e chamou-lhes respectivamen
te de figure (onde residia o foco de interesse), ground (o contexto) e field (o sítio onde se realiza toda a acção: soundscape). Para Murray Schafer a "perspectiva" na música pode ser obtida através da "dinâmica". Diz-nos Schafer:

"Quando um compositor quer que algo sobressaia, faz com que isso fique mais forte do que o resto da música" (…) "Foram os pintores do Renascimento que descobriram a perspectiva como um recurso para separar planos mais e menos importantes numa tela" (Schafer, 1992:98).

Schafer explica-nos:

“Qualquer som pode ser figure, ground ou field. Mesmo sons como sinos de igrejas, sirenes e alarmes, podem transformar-se em ground numa grande cidade por exemplo. Tudo depende da posição do ouvinte. Aqui no meu escritório onde escrevemos este texto o martelar das teclas no computador e o hummm do disco rígido são figure; um carro que estaciona à minha porta e as vozes no passeio dos meus vizinhos são ground; enquanto o ruído de tráfego (buzinas, alarmes e travagens) são field” (Leeuwen, 1999:17).

Schafer distingue ainda dois tipos de paisagens sonoras: hifi e lofi. Paisagens sonoras hifi permitem que,

“Sons discretos se ouçam a grandes distâncias por causa do volume de baixa intensidade do ruído ambiente. Pensamos numa muito calma biblioteca, onde se pode ouvir o virar de uma página de um livro a vinte e cinco metros de distância de nós. Nas paisagens sonoras lofi, por outro lado, sons individuais tornam-se pouco nítidos e obscuros (o caso de alguém no interior de um quarto com janelas duplas e que tenta ouvir uma conversa a poucos metros dele).” (Leeuwen, 1999:17).

Neste tipo de paisagem sonora perde-se a perspectiva e torna-se necessária a amplificação se queremos mesmo ouvir algo. Podemos falar assim na existência de silêncios ruidosos (o silêncio audível de uma floresta tropical). Hoje, com a tecnologia, é muito normal vermos isso acontecer nas salas de concertos. Num concerto rock, por exemplo, um cantor que sussurra ao microfone (só que exageradamente amplificado), pode sobrepor-se em dinâmica sonora a todo o resto do grupo (que pode incluir instrumentos como uma bateria, duas guitarras eléctricas, uma guitarra baixo e um sintetizador), como vimos no caso anterior da Bjork.
A perspectiva na música é intensidade e estéreo (espacialização)...

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