TELECTU NA BIENAL DE CERVEIRA 1986
...os telectu foram - em 1986 - mais uma vez,
convidados para irem actuar à bienal de cerveira, pelo pintor jaime
isidoro; este era uma pessoa extraordinária, mas que não percebia, nem
tinha de perceber, de electrónica; mal chegamos ao sítio do concerto
carregados de sintetizadores e guitarras e mesas de mistura, o jaime
veio cumprimentar-nos; todos nos abraçamos e eu perguntei-lhe "onde
montamos
a aparelhagem", ao que ele
respondeu "em qualquer lado"; e eu dizia "mas onde está o p.a.", e ele
insistia "montem onde quiserem"; e eu disse-lhe "mas jaime, para
actuarmos precisamos de electricidade e do sistema de amplificação: onde
está ele?"; e o jaime olhava para mim e dizia "vocês actuem onde
quiserem e sei que vão arranjar uma solução; e foi-se embora; e ficamos a
olhar para uma tenda enorma cheia de pinturas e esculturas, mas sem
electricidade e sem aparelhagem de som; depois de alguma conversa
decidimos ficar a dormir na linda pousada de caminha e não tocariamos
pois não havia aparelhagem; passaríamos umas pequenas férias lá; saímos
da tensa com os instrumentos nas mãos a pé; iamos a andar pela rua
quando eu vejo parar num jardim em frente uma carrinha em que se via
escrito "Grupo H2O"; virei-me para os outros e disse "Esperem aí um
minuto que eu quero ver uma coisa; olhei para a carrinha que tinha
parado e desta sairam dois homens (pai e filho vim a saber depois);
começaram a tirar colunas e depois uma mesa de mistura; ao ver aquilo
disse ao jorge "podemos pedir para tocar naquela aparelhagem, que
dizes?"; e o jorge disse que sim; fui até o homem mais velho e comecei a
operação de charme "eu fui dos gnr e somos os telectu e iamos tocar
aqui mas não há aparelhagem, será que podiamos usar a vossa?"; e ele diz
que sim; que é um grande admirador dos telectu; ele próprio também já
foi músico; começamos então a montar os instrumentos; fomos buscar mesas
e cadeiras de plástico numa esplanada em frente e como já era noite o
rui azul (que tocava sax nessa noite connosco) ligou as luzes do
automóvel dele para nós para termos luz; chegada a hora do concerto,
começamos a tocar; estava tudo normal quando um minuto depois o som dos
nossos instrumentos baixa de volume e começa a ouvir-se o homem pai a
dizer ao microfone (usando a nossa música como fundo para o seu anúncio e
mexendo no nosso volume como se estivesse numa emissão de rádio em que
quando fala baixa o volume à música): "Hoje, pelas 21 horas, o
agrupamento intelectu, abrilhantado pelo grupo H2O nos raios laser"...
nós iamos morrendo de riso (eu e o azul), enquanto o jorge olhava para o
homem com ar fulminante...
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